segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Bete é mulher.

Bete é mulher. Bete trabalha em um cabaré.

Bete tem longas madeixas negras e cacheadas que escorrem por suas costas nuas. Tem lábios carnudos realçados por um batom de cor vermelha forte. Suas curvas tortuosas foram moldadas pelas mãos erradas do mais vagabundo dos anjos.

Bete acende seu cigarro. Um carro aproxima-se da porta da zona. Bete caminha até o carro com um rebolado desconcertante e inclina-se sobre a janela do veículo. Seus seios volumosos ficam amassados, saltando de seu decote deliciosamente exagerado. O cliente acena. Ela entra no carro. O encontro é breve. Sem conversas, Bete apenas dá um longo beijo “apaixonado”... no meio das pernas do homem. Dura apenas poucos minutos. Bete recebe o pagamento, despede-se e sai do carro para retornar para a porta do cabaré.

Bete acende outro cigarro. Pensamentos vagueiam sua mente. Ela se lembra de suas histórias, de seus amores. Lembra que um dia foi garota e que também já foi desejada. Desejada de uma maneira diferente da que seus clientes a desejavam. Desejada com amor. Ela pensa nos votos de paixão e sinceridade que já trocou com antigos amores. Bete sente a inocência daqueles momentos. Sente que já foi amada e que se sentia protegida. Um frio passageiro na barriga a desnorteia por milésimos de segundos que mais parecem uma eternidade.

Uma luz alta atinge a visão dela. Outro carro se aproxima. Ela joga o cigarro no chão e o apaga com a ponta de seu salto agulha. Bete verifica a maquiagem no espelho que carrega em sua bolsa, retoca seu batom, ajeita sua saia vermelha e aproxima-se do carro.

Bete é mulher. Bete trabalha em um cabaré.